quinta-feira, 31 de dezembro de 2009




Santuário

O carinho da forte farinha
Que do vento me trouxe a foice
Afiada pelo cair da noite
Inspirou-me na lacuna oferecida

Lacuna sem letras, sorte não há
Mas dados na mesa, estão sempre a rolar
De repente o medo: rogo à Aparecida
Medo bendito!
Sentença: A merecida.

Gordack, Sara Mazuco e Ricardo Villa Verde

terça-feira, 24 de novembro de 2009


Mitridatismo

A hora de sumir é agora
É só mais uma manhã lá fora
É quando ouve-se o quanto se é amado
É caminhar sem alguém ao lado
A hora de sumir é todo o auge
Daquilo que surge como vendaval
É o último dia de Carnaval
É quando percebe-se
Que apenas uma sombra
Já é o que conta
E se faz de abrigo
É fugir do perigo
É cortar o espaço
Feito faca quase sem fio
É água, é fogo, é aço
É desafio
É destituir, dessecar
Sentir-se sem lar
A hora de sumir
É a de chegar
De repente
A outro lugar

Ricardo Villa Verde

segunda-feira, 23 de novembro de 2009


Menininha vestida de rosa

Dá um tapa na poeira que outrora
Afundava os passos do teu caminhar
Lembra os tempos de portão
Meio fio, mesa de bar
Me fala se amas, se sonhas
Se ainda é capaz de voar
Só não suma na fumaça
Que faz ficar impossível te encontar
Sei que ainda existe você
Atrás das cortinas do velho teatro
Tenta caber nesse copo
Na essência do insensato
Tenta caber nesse corpo
Onde brindaremos com vigor
Ainda não é proibido
Poder falar de amor

Ricardo Villa Verde



Versos em silêncio

Te vi me olhando da janela
Parecia uma tela
Pintada em meu coração
Faço em minha mente uma prece
Vê se não desaparece
E não vá desbotar
Peço ainda
Em plena segunda-feira
Uma cachaça mineira
E o tempo a me guiar
Num dia de céu limpo
Sem ter nada a fazer
Vou me lembrar de você
E de como tudo foi bom
Trago comigo
Muitas imagens da gente
E como um troféu diferente
A memória suja de batom
Tocou um silêncio
Na roda de poesias
Logo todos me olharam
O versejar era meu
Mas por pensar em você
Quando o sarau acabou
Eu só disse:
Valeu!

Ricardo Villa Verde

quinta-feira, 19 de novembro de 2009



 Sincronicidade sintética


Transcende a luz lilás
Que toma conta de toda
Minha caixa craniana
Abre a quarta porta
Que sustenta a película
Que vibra em ondas
Mais rápidas que a luz
Voltando velozmente
Antes de ter partido:
Idéias...
Precognição da tua imagem
Materializando-se
Em vários sorrisos
Em vários futuros

Ricardo Villa Verde

quarta-feira, 18 de novembro de 2009



Caravana

Quadrilátera folha
Que foi na breve brisa
Que não se encolha
E voe livre, leve e lisa

Função vital, imitei
Audição igual não sei
Fato, vida, olfato, evaporação
Tu meu Sol! Comunhão...

Brancas nuvens não te neguem
Curta metragem no firmamento
Perto, longe, seguem...
Acalentem-me do tormento

Gordack, Sara Mazuco e Ricardo Villa Verde

segunda-feira, 16 de novembro de 2009



Nas nuvens

Quando as nuvens sobem
Pra mente e você sente
Os olhos debruçados
Pesados em leves sonhos
E um sorriso liso de
Mágica paz
Que de repente-mente
Se faz
No desenho do teu rosto
E os transtornos obsessivos
Do dia
À dia, ficam esquecidos
Entre tantos outros
Entulhos
Que já não fazem mais
Nem tantos
Barulhos
Você se senta, deita
Se expande
E se acomoda
P r e g u i ç o s a m e n t e
E levemente de corpo inteiro
Sorri para o espelho
Como o gato de Alice,
Sagaz maconheiro!

Tubarão


Improviso

Tava lendo
Ferreira Gullar
E me deu
Vontade
De escutar
Cazuza
O verso a palavra
Marca de batom
Na blusa
Uma noite que
Fez
Acontecer
Num improviso
Entre
Eu
E
Vc!

Tubarão


Meio-fio

Meio-fio, eu assumo o desafio
nessa corda bamba
Nossa vida já deu samba
Samba-canção
Porta retrato do coração
E viver triste assim
Não me interessa
Não sou pagador de promessa
Não vou carregar essa cruz
Por você já chorei
Várias lágrimas de blues
Eu cansei de sofrer
Tratamento de choque
Eu vou me libertar
Numa pista de Rock!

Tubarão

Solstício

Anoitece uma emoção
E é a mesma direção
Toca o telefone de borracha
Apagando em minha mente
O que ainda restava de ti
Vários Barcos
Várias velas
Vagos olhares
Vagas Orações
Cada vez que termina um amor
É como uma morte
É mais um Norte
É mais um Sul
É a mesma direção

Ricardo Villa Verde


Olhos ácidos

Olhos ácidos
Sorriso elétrico
Em passos rápidos
Andava pela rua
Com seus pensamentos
Desloucados
Sua alma inteira
Brilhava como estrelas
Em compulsão
De partida
O mundo era pequeno
Demais
E ele saiu de casa
Para encontrar
O infinito

Tubarão

terça-feira, 10 de novembro de 2009





Vadinho

 

Em minha espada trago

As maduras displicentes.

Já nos arquivos o estrago

Das casadas inocentes.

Em ruas escuras,

Nuas e esquecidas

A alcova do rijo prometido.

Nos bares, sou um cavalheiro

Que aprecia um sorriso contido

Induzindo- as como um forasteiro

Às várias viagens do sentido.

Revelo no beijo forte as tapas empíricas,

E no rastro as migalhas,

São sempre recolhidas.

Dezenas de reses em boca aberta

Sonham com uma boa acolhida

Sorvo-lhes do eu, na lembrança

Das muitas esquecidas

Umas vozes de ódio visceral

Condecoram meu peito,

Já tantas outras me gritam;

-Ai safado cê num tem jeito.

 

Gordack

sexta-feira, 30 de outubro de 2009


Projeto

Eu queria falar de amor
Mas não consigo
E assim sigo
Fazendo alegre
Quem não vê a cor

Conseguiria mentir
Não ser eu mesmo
Só para um sorriso parir
Te ver partir
E depois dormir

Sonhando com o que não escrevi

Ricardo Villa Verde

Iluminada solidão pública

A Cervical vibrava
Com as hérnias de disco
Insistindo em tocar Pink Floyd
Me perdi nas asas de fada
Da borboleta que pousou
Em meu córtex
Minha cama e meu corpo
São feitos de látex
E por mais longos
Que sejam meus braços
Que sejam meus sonos
Meus sonhos mais belos
Faz muito tempo que não ouço
O volume dos seus cabelos

Ricardo Villa Verde

segunda-feira, 19 de outubro de 2009


Deixe-o no seu próprio caminho

Os raios do desafeto de Ícaro invadiram as janelas da alma e ele voltou do paraíso de Morfeu, purificou-se nos fluidos de Mãe Iara e saboreou o amargo e o doce do companheiro matutino. 

Munido da armadura habitual transportou-se para o campo de batalha, dentre os reflexos do caminho já não via Narcisos nem Helenas.

Em seu tributo diário ao Marte sua batalha era contra Chronos.

Desejava em todo o momento o negro do luar para ter com Baco e Eros os prazeres sibaritas do humano caminho.

Dentro de um círculo contínuo os Deuses faziam morada em sua vida.

Não era justo demolir as estruturas dos pilares do cancioneiro arcadista.

Fazia-se fundamental a continuidade romântica da pesada jornada Épicaverdeamarelísma, pois contrário a isso o concreto modernista transformaria o seu realismo, e ele perderia os símbolos.

Acabaria O canto do galo, perderia o caminho para São Saurê, O bagaço de cana do engenho já não acalmaria o pranto e até O Diabo de Diadorim seria singular.

Retornar ao barro do barroco, ter a transpiração acima da inspiração, ser visto como um algum que deseja o impressionar, é demais para um filho condenado ao labor da Morte e Vida. Deixe-o feliz, isso só durará enquanto eterno for.

Gordack

sexta-feira, 16 de outubro de 2009


Sentença (remix)

Alma blindada,de tanto te ver partindo em meu sono
Blindada, te vendo ir embora fora do sonho
Blindada de tanta porrada, gritos, caminhos incertos
De ver em você a continuidade daquilo que quero
Alma blindada, de frustração, repetição
Projetando em ti, imagens daquilo que gosto
Alma lavada, lavada e pintada
Com tons de uma lida em busca de si
Blindada de fina película, segura e frágil
Validez expirada com o tempo de vida
Alma blindada, sem serenidade, sem nenhuma vaidade
Sem o corpo da alma
Presa numa redoma que ela criou

Ricardo Villa Verde

terça-feira, 6 de outubro de 2009


Vírus Analógico

É fria
A poesia
Digital
Tu já não inventas
Clica na barra
De ferramentas
Onde o rimador:
Amor e dor
Às vezes até flor
É mais poético
Porém patético
E magnífico
É só o corretor
Ortográfico

Ricardo Villa Verde

segunda-feira, 21 de setembro de 2009


Buraco de rato

Eu gosto de cheiro de flor
De formato de folhas
Do vôo das abelhas-cahorro
Eu gosto de mangue, de mambo e de manga
Eu gosto da vida, da noite e do samba
Do requebre da mulata
Num sonho de Bamba

Ricardo Villa Verde & Gordack

segunda-feira, 14 de setembro de 2009



Beijo

Eu quero tirar
A poesia da tua boca
Esses teus versos
De vermelho batom
Eu quero o teu beijo
E eu quero agora
Não pare, não pense
Me beije sem demora
O beijo é o primeiro passo
Para a gente se conhecer
Feche seus olhos, me dê sua boca
E muito prazer!

Tubarão.



O poeta fim de noite
O poeta fim de noite
É o Dom Juan da madrugada
Copo cheio
Palavra molhada
A sua poesia embriagada
Troca letras e olhares
Procura em todos os lugares
Se entorpecer
Nos lábios que trazem
Você!

Tubarão.





ENCRUZILHADA

Entre o silêncio de teus lábios
E o desejo do meu coração
Entre o teu olhar alheio
E as memórias da minha alma
Entre erros e verdades
Palavras costuradas por amor
Entre tudo o que foi
E o que hoje não é mais
Entre todo o sonho
E a dor presente
Entre tudo que agora
Poderia ser
Meu coração
A porta aberta
Entre...
 
Tubarão.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009


Di amante

Minha lágrima sobre o vidro da mesa
Bola de cristal que o dedo interrompe
Gerando a inicial de seu nome
Ferindo-me, na certeza cada vez mais nítida
De que o balé de nossas mãos dadas
Era o caminho certo da paz em nossos sonhos
Conforme o tempo passa, sua falta pincela
Novas paisagens, onde quase não me vejo mais
Tanta palavra morta antes de chegar à boca...
Sentimentos que não consumiram a ponta do lápis
Rasuraste as mais belas linhas que nossos olhares comporam
Nossa cumplicidade foi um arcoíris
Espalhando sua imagem em minhas manhãs
Multiplicando seu sorriso encantado
Estampado em minha retina e correndo livre em meu âmago
No fundo, sinto falta das nossas estrofes de métrica perfeita
Que o brilho do seu olhar aprovava
Dizendo-me que palavras eram só partículas no papel
E que nossa luz é que escrevia o poema
Os versos estão ficando mais calmos
Não há culpa, na nobre insanidade do amor
Mesmo sangrando, te perdoei.

Ricardo Villa Verde

quinta-feira, 3 de setembro de 2009





 

Vinil:

O ultimo resquício do romantismo

 

 

O que devo aceitar como certo

É o desejo da verdade inegável,

É uma cura impossível em um corpo morto,

É o saborear uma vontade impalpável.

Alegrias é provável de se ter.

Agonias é fato conhecer.

Discuto o puro invisível cotidiano

Dentro dos cefálios Hermanos.

Poderei sair das artérias?

Conseguirei invadir as flores?

Maturar-me-ei tentando respirar?

Das ciganas quero distância;

Dos bruxos desejo conselhos;

Dos amores espero constância;

Dos temores, que fiquem no espelho.

O ouro e a prata de hoje

É o zinco no telhado.

A carne virou grão

E o vinho já se sabe.

Bonança não demore

Tempestade lhe aguarda.

 

Gordack

 




Terra natal

 

O corpo sente o tempo

O vilão virou herói

Só que em outras mãos

Juventude sem criação

Abrimos um caminho

Para uma nova alienação

Minha geração perdida

Na memória torta

Os mestres das exatas

Talvez me critiquem

Mas a arte é veiculo

Indispensável

Na educação

 

Gordack

 

 

segunda-feira, 31 de agosto de 2009


Insólito

Essência cicatrizada
Atraversando palavras dopadas
Neuróticos neurônios
Nas esquinas sinônimos
Daquilo que te aguarda
Nuvem plutônica
Tingindo de branco o lençol
Radiografias de uma alma bemol
Aonde, antes de lá
Existia apenas um sol
Olhando somente pra si
Pisando em nuvens, sem dó
No heliocentrismo
De querer ser um só.

Ricardo Villa Verde

domingo, 30 de agosto de 2009


Trigonometria insensata

De tanto partir de algum ponto
O ponto sou eu
E quando me encontro
É só mais um conto

Num rosto que não é seu
De fato, um novo véu
Num corpo que não é meu
Um gozo que não é céu

Ricardo Villa Verde

quarta-feira, 26 de agosto de 2009


Lençol maculado.


O cheiro que me vicia a mente
É o mesmo que me matura
No urro da ogiva incandesceste
O rubro ploft queima a candura
Triste sina da rês abatida
Os dentes no canto da face
Demonstra uma alegria sentida
Em tarefa executada com arte

Gordack

Pueril


Foi-se o tempo e eu não te encontrei
No meu único compromisso fugir é
A hipótese sem sentido
Porem na tez da sua irís hesitei
Seu jeito cristalino e sensual
Transbordam de odores mágicos
Rogo por um encontro casual
No paralisar dos ponteiros trágicos
Ao conseguir escalar a cordilheira
Ambiciosamente livre estarei
E ao seu agrado escravo serei
Provarei sua saliva feiticeira
Aveludar-me-ei nos poros do teu colo
E inspirarei o suspiro da tua resistência
Um simples e inofensivo segredo juvenil
É o passaporte para um passeio lúdico
Dentro de um paraíso que consideras único
Contemplando o seu prazer aprendo
A ser mais você
Aprendo a ser mais amor.

Gordack.

domingo, 23 de agosto de 2009


Folclórico universo auspicioso


De toda aquela saudade
Sobrou apenas um quarto
Do brilho, sobraram estrelas
Do silêncio, o sustenido
De tudo que resvala
A tentativa do beijo
Do abraço que ficou na memória
A dúvida sobre o fim da história
Amordaçada, lançando um olhar
Clinicando sobre a mala fechada
Compulsão na partida
Bagagem vazia
Levando a metade da metade
Daquilo que a muito jazia
Deus tem sempre a mesma saudade
A mesma cidade
A mesma idade que nós

Ricardo Villa Verde

segunda-feira, 17 de agosto de 2009






Terra natal

 

O corpo sente o tempo

O vilão virou herói

Só que em outras mãos

Juventude sem criação

Abrimos um caminho

Para uma nova alienação

Minha geração perdida

Na memória torta

Os mestres das exatas

Talvez me critiquem

Mas a arte é veiculo

Indispensável

Na educação

 

Gordack

 

 


O mais nobre de todos


Quando ele chegou
Não imaginava sua existência
Cá dentro havia uma resistência
E de surpresa me pegou
Muitos me falaram com clareza
Das mudanças com sua chegada
E das almas que foram transformadas
Ter-lhe era necessário, essa é a certeza
Será que era perigoso
Viver esse modificador
Que até então achava jocoso
Acredito que sou pecador
Por resistir a sentimento tão gostoso
Que no mínimo é inovador
 
Gordack



Tu só tu


Há momentos que quero te esquecer
Há momentos que quero te odiar
Há momentos que quero te deixar
E também
Há momentos que quero te amar
Há momentos que quero te idolatrar
Há momentos que quero te cativar
Da mistura de sentimentos
Percebo que a razão
É querer que você seja igual
Ao o que eu desejo,
Mas se fosse ai já não
Seria mais você
E a idéia de ter outra pessoa
Eu não suporto
Desta forma eu te aceito

Gordack

sábado, 15 de agosto de 2009


Verdade de um momento

Mágico, lúdico e estereofónico
Lento, rápido e supersônico
Água, gim ou tônica?
Sinfônica ou filarmônica?
Como pode isso tudo ao mesmo tempo?
Vibrando todo tempo e sem cronologia
Dentro de teus braços
Nos meus dias sem simetria
Num abraço
Onde em um segundo
Muito mais que isso
Caberia

Ricardo Villa Verde

quinta-feira, 13 de agosto de 2009


Ensinou-me

AMAR:
Pensar,
Tramar,
Chorar,
Odiar.

VIVER:
Ver,
Entender,
Sofrer,
Morrer.

SORRIR:
Sentir,
Mentir,
Ferir,
Sumir.

Agradeço aos bulbos embutidos nessa experiência
Devo-lhe muito mais do que imaginas
Espero apenas a acidez de suas lágrimas
Para o florescimento do jardim.

Gordack


labirintos

Optei por não fazer escolhas
Prefiro que me escolham
Ou que se encolham
E o fruto de tudo isso
Caso colham
É só um descompromisso
Um cair de folha
Devido a quem escolheu
Não compreender sua escolha:
Eu

Ricardo Villa Verde

sexta-feira, 31 de julho de 2009



Subtração

Toma
O soma
Benzinho
Em Coma
Na vida
No sonho
Na Doce
Redoma
Perigo
Na rua
Tô longe
Da tua
Querias
Viver
O sol
A lua
Toma
Benzinho
O soma
E liga
E vive
Mentira
E vê
na caixinha
Teu corpo
Morrer
E sente
Enterrarem
Quem não
É você

Ricardo Villa Verde

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Por aí...

Lindo vestido azul
Lindo vestido, sei lá
Você se aproximou muito
Empunhando sua guitarra em meio a platéia

Som alto demais pra nós dois
Um abraço apertado
Flashes mais claros que a cor do papel
Onde tu ainda insistes em me olhar
Com um sorriso dopado

Sua imagem dentro de um álbum
E o que restou de você
Hoje, tão perdida dentro de si
Cai no lugar comum

Ricardo Villa Verde

Planeta Quase
Você repontou brilhando
Num recanto, sem me evocar
Mesmo assim ouvi seu canto
E vivi o que dizias
Foi tão forte tua luz
Que mostrava cinzas suspensas no ar
A todo momento eu as respirava
Sem sentir a rica mistura
E escrevia, talvez não o que vivia
Mas quase sempre o que queria
Você mudou a minha mira
Meu jeito de magicar
Mas é longa a estrada, querida...
Hoje eu quase vi um eclipse em mim
Sou quase feliz
E na caricata realidade
Tristeza e sorrisos
No calado caminhar
Entre tanto sentimento mutilado
Consegui chegar
Até a esquina
Onde o relógio não mostrava as horas
Mas apenas o que faltava
Para você acontecer

Ricardo Villa Verde

Astrum

Pelas portas do olhar
Esperava a tarde inteira
Por qualquer coisa
Que fosse diferente
Daquilo que tencionava
E pensava em ondas
Flutuando no tempo
As vezes sentia-se
Areia ao vento
E ao compor-se
Só uma ampulheta vazia
Achava que o poema quebrara a perna
Já não andava na cabeça das pessoas
Poemas tão leves
Indo e vindo, velozes
E quando ainda rascunhos
Brisas já os carregavam
Formando, em algum lugar
Estrofes, que escapavam de suas mãos
E nos crepúsculos mais cinzentos
Recebia e musicava
Versos escritos pelos
Punhos da imaginação

Ricardo Villa Verde


A faísca do Comuna

Navegando para a ilha encontramos
Uma pequena garrafa mensageira
E ao tirar a rolha nos deparamos
Com agulha de bússola verdadeira

LIBERDADE ME TRANSBORDA E ME FASCINA
SANGUE E SUOR SÃO AS MARCAS DESTA SINA
O MILAGRE E A ÁGUA EU COMPARTILHO
TENHO O FEIJÃO E UM AMIGO O MILHO
FLERTO COM O SOL E NAMORO A CHUVA
NAS PISADAS, RIMOS DO DESTINO DA UVA
MARTELO CRIA AÇO E FOICE TRAZ O PÃO
COM AMOR DIÁRIO E IGUALDADE ENTRE IRMÃOS

Obrigado companheiro Comuna
Seguiremos avante
Até ancorarmos nela...
A minha
A nossa
A sua.

Gordack


terça-feira, 28 de julho de 2009


O FRUTO DO COMUNA

E brotou na lacuna
A rosa do comuna
Na derme rasgada pelo espinho
Conheço o doce caminho
Parte plural da espuma
Nos marés do ninho
Todos iguais na escuna
Em busca da ilha
Minha
Nossa
Sua.

Gordack

sábado, 25 de julho de 2009


O ADEUS DE UM COMUNA.

Fui condenado à morte
Mataram-me em poucos instantes
Meu crime foi o pior de todos
Ser eu mesmo para mim próprio
Descobri a realidade que escondiam
Salvei-me a tempo
Divulguei minha visão
Opinei em todas as direções
Mas, em alguns momentos
Os riscos na mente afloraram
Não recuei da trincheira cavada
Manifestei a luz
-Duvidem de tudo, descubram o velado, olhem em todos os ângulos, crie seus conceitos, o bastante par...
Ouço o barulho do cadafalso se abrindo
Só sinto uma pressão na cabeça...
...Cortaram-me as flores do funeral
Economizaram na cal...
...mas que tipo de madeira é essa?
Ninguém veio na despedida
Sou muito mais culpado
Do que eu imaginava
Tudo rola na memória
E agora sou um traidor morto
Das verdades absolutas
E um herói vivo
Das mentiras rasas
Porém, meu legado já brota em alguns...

Gordack

quinta-feira, 23 de julho de 2009


Fatum


No momento que se é brotado,
já se sabe do encontro inevitável.
O quando acontecer é a dúvida.
Espero encontrá-la com vivência suficiente
para ofertar um belo jantar à luz de velas.
E demonstrar todo o respeito que a experiência dos idos me ensinou.
Vou vestir minha melhor roupa.
E não esquecerei as duas moedas, úteis para a travessia.
Agarrado em seu vestido de cetim olharei apenas para frente.
Aos que não me testemunharem mais, deixarei o legado.
Enquanto não sinto o seu doce beijo amargo
Lavo-me com os prazeres que aqui encontro.

Gordack

sábado, 18 de julho de 2009


O poema é você

A letra se torna repetitiva
Para o poema
A letra se torna o dilema
A frase mais curta
Não se encaixa
A palavra certa
Quase não se acha
Objetivo quebrado
Dentro da construção
Quebrado ou não
Faz da poesia
Barraco ou Mansão
Miséria e Ilusão
Banquete ou prato vazio
Na mesa e na memória do irmão
Popular ou banal
Místico, mágico ou surreal
Socializando, na ideologia seguida
A mão estendida nos versos
Salvando mais uma alma


Ricardo Villa Verde

sexta-feira, 17 de julho de 2009


Culpa?!?!?!

O sangue já lhe escorria a face, e a respiração era ofegante e complicada: nariz quebrado. Perdera dois incisivos, o celular e a esperança. Acuado na lixeira desesperou-se ao ver o combustível chegando, seria vítima da contemporânea inquisição da comunidade. Entre o choro compulsivo e os gritos de piedade conseguia-se ouvir os murmúrios de uma oração. Senhoras de idade avançada não agüentavam observar um fim de vida tão cruel e tão aclamado pelos jovens, que assistiam eufóricos ao castigo. Os olhos abertos e vidrados das crianças mesclavam em direções opostas, de um lado o algoz apoiado e incentivado por uma mulher em período de gestação avançada e que trazia em seu colo uma pequena criança sem roupa, e do outro lado o futuro cadáver. Um homem deselegantemente trajado com terno e gravata levanta um bíblia e pula para o meio do palco chamando a atenção de todos os espectadores, ajoelha-se e grita.
-Sangue de Jesus tem poder! Jesus, segura a mão desse irmão!
Talvez a salvação tenha chegado por intermédio da prece do moribundo ou da presença do sagrado papiro ou ainda do puro azar do homicida. Sirenes e luzes, tiros para o alto, correria total. Salvo por um telefonema. Sujo de gasolina, sangue e lágrimas o elemento é amparado pelos homens da lei.
Passaram-se dias e dias e dias. Já tinha outra vida e essa era a nova ordem. Era um novo homem, freqüentador assíduo da igreja do seu novo bairro em sua nova cidade, casado um uma mulher do lar, tinha agora um enteado, um filho na barriga, e o que julgava mais importante a libertação do álcool. Trabalhador padrão do mercadinho local era querido pelos clientes e pelo patrão. Politicamente correto nas opiniões colocadas diante de enquetes dúbias, ponderado, educado, responsável, sociável e um bom chefe de família. As prazerosas chuteiras há tempos estavam penduradas, mas não deixava de levar o enteado no campinho de futebol aos domingos, o sonho do garoto era ser goleiro.
Ao voltar da igreja com a família naquela noite tudo era cotidiano e feliz, mas esta harmonia não demoraria. Ao virar uma esquina encontrou o Capeta, sim o Capeta, mais precisamente Pedrinho Capeta. A mulher e a criança não compreenderam a reação do acompanhante. Ele parou de falar e tremeu curvando-se para a direita como se uma agulha quente lhe fosse enfiada na espinha, mudo suou frio, e esbugalhou os olhos, seu pulmão parou e não conseguiu engolir a saliva. Essas reações duraram apenas dois segundos, tempo necessário para o seu antigo algoz sacar a arma da cintura e disparar quatro tiros de revolver no rosto de Batista. A mulher gritou como quem quer expulsar a alma pela boca, enquanto o corpo caía e o sangue voava. O assassino correu e ouviu-se o cantar dos pneus. A mulher continuava a gritar com as duas mãos na cabeça, segurando com força os cabelos, um pouco acima das orelhas, e o menino debruçado sobre o corpo sem vida berrava chorando.
-Paaai...Paaai...num morre não...Paaai!
Após horas Pedrinho Capeta chega a sua humilde morada. Sua anosa mãe o aguarda acordada, junto com os outros familiares. A carismática senhora lhe indaga. E o bom filho responde.
-Foi pro inferno mainha.
A matriarca cerra os punhos, levanta os braços para o alto, fecha os olhos e dispara.
-Graças a Deus!Graças a Deus! Muito obrigada meu filho.
Toda a família se abraça e chora de alegria. Agora todos eles já poderiam dormir em paz. Finalmente foi vingada a doce menina de puros dez anos de idade, sobrinha de Capeta, que fora estuprada e morta por Batista.

Gordack

quarta-feira, 15 de julho de 2009

desafinada


Veneno
Depois do medo eu acordei
Depois da noite
Depois da morte
No espelho,sorri
Tenho Sorte
Minhas Catedrais
Meus Desertos
Minhas Florestas
A tarde se anuncia
Me desconheço
Crio coragem
Me Transformo
Em mim mesmo

   Ricardo Villa Verde

segunda-feira, 13 de julho de 2009


É fácil.


Jogar tudo para o alto é uma boa saída
Ficar preso é deixar a vida morta
Quem julgará o errado, a trilha torta
Você ou outro: qual a alma que está partida?
Sem coragem pegue o pulso, a faca, e corta
Mas existe solução até para essa fadiga
Grite alto a dor e coloque as contas na mesa
Não vivo sem, mas não sou escravo, muito menos uma presa
Haaa que beleza,
Amanheceu, estou feliz de novo
Nem mesmo o amor se tronará estorvo,
Estou arrebentando a casca do ovo
E agora me pergunto,
Rindo, rindo e rindo
Por qual motivo de tanto tempo juntos?

Gordack

VÁRIAS VELAS



E de posse do evangelho
Virou-se para Meca e
Rezou uma Ave Maria
Pediu forças para Ogum
Pensou no seu bar mitzva
Deu alguns passos e
Meditando, limpou os chacras
Sentencio-se...

-Seguirei os caminhos de Buda



Gordack

Ímprobo.


Grito na noite calada
A revolta dos dias escuros
E na insônia do discurso
A luz é meu ouvido
Basicamente abstrata
No auge da droga que
Na hora pós-crepuscular
Chora e me maltrata
Gordack

sábado, 11 de julho de 2009

Domingo
Hoje é domingo
Acordei,abri o guarda-roupas e saí por aí,trajado de domingo
Meus passos deixavam pra trás um rastro repleto de ressentimentos
Outrora tudo era belo
Mas o nosso amor começou depois de outrora
Senti algo florescer dentro de antigas ruínas
Colcha de retalhos...
Hoje eu procuro um refúgio
Construo um abrigo
Mas volta e meia, goteiras continuam me molhando.


Ricardo Villa Verde