segunda-feira, 21 de novembro de 2011


TRANSPARÊNCIA

Se sou tão bom no que faço
Porque agora o cadafalso?
Se a competição é de fato sadia
Porque me exilam da noite para o dia?
Se por tantos amigos fui cortejado
Porque agora sou evitado?
Se para muitos já fui inspiração
Porque agora nenhum aperto de mão?
Eu tenho as perguntas
Mas não me dão as respostas
Eu ainda estou aqui
E só me dão as costas.

Tubarão.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

 

Rock and Roll Dois mil e tal

O colírio que uso
Embaça minha vista
Me faz quase um Cientista
Ou um motorista
Fugindo dos passageiros

Em busca de fórmulas
De bulas, de pílulas
Que me façam achar
A razão pela qual
Toda hora eu achava
Que o amor
Dava na gente
Assim
Toda hora

Mas o colírio que uso
Clareia a mente
E mostra
Que na verdade
O que dá na gente
É só saudade...

Ricardo Villa Verde

terça-feira, 8 de novembro de 2011


OPERÁRIO PADRÃO
Antes do sol você acorda
O dia nem começou
Pensamentos pulam para fora da cabeça
Caindo em solo estéril
No ponto de ônibus
Sempre a fila enorme
Enquanto espera, você sente inveja
De quem ainda dorme
Dentro do ônibus, o sufoco diário
De quem vai apertado
Calor humano não tem aconchego
Dentro do ônibus lotado
Já no trabalho você não espera
Milagre nenhum
Patrão mal-humorado e salário baixo
É um mal bem comum
A vida segue e você apenas
Trabalha, trabalha, trabalha
Você é a fonte de riqueza
De mais um canalha
No fim do dia, esgotado
A volta para casa é mais um desconforto
O seu corpo segue a programação
Mas você está morto
São poucas horas livres
Muito pouco tempo para descansar
Amanhã será mais um dia igual
E você só consegue pensar:
A vida segue e você apenas
Trabalha, trabalha, trabalha
Você é a fonte de riqueza
De mais um canalha.
Tubarão.



PANELA

Eu não caibo dentro
Da panela
Eu não faço parte
Da panela
Eu vivo melhor longe
Da panela
Eu faço a minha arte
Fora da panela
Panela, panelinha,
Panelão
Muitas cabeças e nenhuma
Direção
Panela, panelinha,
Panelão
Dentro de vocês não cabe
O meu coração!

Tubarão.

terça-feira, 1 de novembro de 2011


APODRECENDO

Já foi, já deu
Você não aprendeu
Que a estrada para o inferno
Está em cada um de nós?
Você nunca viu, você não ouviu
Os sussurros e os gritos
Viciosos dessa voz?

Agora se afoga
No prazer dessa droga
Morto-vivo ambulante
Assombração deselegante
Em carne seca e ossos
Passa os dias e noites
Apodrecendo sem remorsos.
Tubarão.

terça-feira, 25 de outubro de 2011


CENSURA MODERNA

Tem muita gente censurando
Sem perceber
Tem muita gente censurando
Não sabe o quê
Tem muita gente censurando
Sem ter por que
Tem muita gente censurando
Censurando você

Pessoas censurando, censurando
Nenhuma delas está pensando
Pessoas censurando, censurando
Nenhuma delas está analisando
Pessoas censurando, censurando
Deixando de lado o “X” da questão
Elas se esquecem da liberdade
De expressão

Elas alimentam a ignorância e a mágoa
Atiram a primeira pedra
Elas criam tempestade em copo d’água
Por qualquer merda
Elas estão fazendo o jogo sujo
Do pseudomoralismo
Elas estão caminhando cegas
Para dentro do abismo
Elas estão vivendo de inteligência artificial
Domesticadas pela sua existência superficial

“A censura, a censura
Única entidade que ninguém censura”
Mais!

Tubarão
(Com citação à música Censura da Plebe Rude).

terça-feira, 18 de outubro de 2011


ZÉ FUDIDO

Zé Fudido não tem amigo
Ele não tem dinheiro no bolso
Ele vive com a corda no pescoço
E com a fome na barriga
Zé Fudido não tem endereço
Ele paga o preço da vida
Zé Fudido não vota
Ele não se importa
Mentiras não salvam o mundo
Zé Fudido tem raiva no peito
E seu coração é vagabundo
Zé Fudido é sujo e agressivo
Escroto feito rato de esgoto
O desprezo é a sua religião
A sua alma se chama ódio
Fogo que ele nunca queima em vão!

Tubarão.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

 

Sete Dragões


Disfarça
Toma lenta e consciente
Teu copo de cicuta

Adormeces
Enquanto a dor não percebe

Sonha
Tua última vibração

Deixa entrar a alegria
Pela abertura de um sorriso

Entenda
São reais os disfarces
Para quem os usa

Imorais
Quando levam à cura

Ricardo Villa Verde

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

 

 A farsa de uma Maria qualquer

              
  “Atordoado eu permaneço atento
                   Na arquibancada pra a qualquer momento
     Ver emergir o monstro da lagoa”

                                                       Gilberto Gil e Chico Buarque 1973


A nova produção:
Contra-regra na  Globo
Tu vais ver o que é bom
Nós ríamos com Gil Vicente
Na praça de um novo Theatro
Acenda uma vela a  Deus
E outra a um pobre Diabo

Mais de 1000 kilowatts
Conhecemos sua língua

Achamos que um bagulho careta
                           Não merece nem ser aceso            Estribilho
Achamos que um bagulho careta
Não merece nem ser acendido

Conhecemos a língua
Coramos de vergonha
Com o seu preconceito
Ouça nossos conselhos
Mas não tem pagamento

Mais de 1000 kilowatts
Berrou num pau-de-arara

Nós ríamos com Gil Vicente
Do seu nariz de direita

Ricardo Villa Verde

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

 

Cinco segundos


O vento soprava palavras
Em minha boca vazia
Eu sentia teu sol, consumia tua fé
Hoje imagino teu céu
Contrastando
Com minha nova alegria
Que absorve energia em gotas
Ao toque da chuva na pele
Naquilo que seria um êxtase
Não fosse pelo peso dos dias
Onde tua lembrança morna
E alheia à nossa história
Martela a verdade.

Ricardo Villa Verde

segunda-feira, 19 de setembro de 2011


JARDIM DE PEDRAS
Algumas coisas não consigo
Mais lembrar
Alguns amigos do passado
Vem me visitar
Os dias passam e encurtam
A distância
Às vezes vejo o meu vulto
De infância
Correndo solto pelo
Jardim
Pedras e mais pedras
Sem fim
A noite já não é tão longa
O amanhecer não é mais tardio
Coberto de fantasmas
Às vezes sinto frio
Os dias passam e encurtam
A distância
Às vezes vejo o meu vulto
De infância
Correndo solto pelo
Jardim
Pedras e mais pedras
Sem fim...
Tubarão

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

NÃO GOSTO DO RETRATO DO MUNDO

Não gosto do retrato do mundo
Ou das mãos que desenham
Um futuro ainda mais sofrido

Já não bastam as dores de hoje
Ainda semeiam a doença futura
Que deixará o planeta mais combalido?

Todos sofrem, todos choram
Dia após dia, o sangue derramado
Ou outra atrocidade ambiental

Espalham o medo enquanto autoridades
Preservam seus corações congelados
Pelo vil metal!
Tubarão.

VÁ PARA A PUTA QUE PARIU!
Vá sozinho
Ou vá acompanhado
Vá feliz
Ou bem bolado
Vá de frente
Ou vá de ré
Vá de carro
Ou vá a pé
Vá de noite
Ou vá de dia
Vá sem a minha
Companhia
Vá com suas mentiras
Ou com suas verdades
Vá com sua alma suja
E não deixe saudades
Vá com a sua eterna
Politicagem barata
E com o fim necessário
De toda a sua mamata
Vá e não retorne
Esqueça o caminho da volta, viu?
Vá direto e sem paradas
Para a puta que pariu!
Tubarão.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

O AMOR É PUNK!

Queira ou não queira
Goste ou deteste
Alegria de uns mesmo que para outros
Não preste
É hábil na arte de armar
Uma tocaia
É mais sedutor do que um bom
Rabo de saia
Quando chega, seja de mansinho
Ou não
Te puxa o tapete, tira
O teu chão
É romântico e até mesmo
Bem cafajeste
Se entregue cego ou
Proteste
Mas saiba que quando chega
Explode teu coração
Anarquiza teus medos
E sua autogestão
É uma doce ferida
Que não há quem estanque
Para dizer a verdade,
O amor é punk!

Tubarão
BICHA VELHA


Bicha velha amarrotada
Gostava de cigarros
E músicas bregas
Muitas vezes tomou
Porrada
E no cu já não tinha
Pregas
Apenas um poço
Largo e fundo
Bicha velha desavergonhada
Já deu pra todo mundo
Patrimônio público
Bicha tombada
É assim que te classificas
Tomou a frente
De muitas namoradas
Inaugurando várias picas
Quem foi que no teu cu
Ou em tua boca ardente
Não jorrou a feroz
Porra quente?
Houve também os recatados
Que à noite, às escondidas
Contigo, muitos prazeres
Gozaram
Mas, à luz do dia, mascarados,
Ingratos, te crucificaram
Só que agora,
De nada importa
O falso e o preconceito
Bicha velha e finada
Não se vê uma única
Lágrima derramada
Na solidão
Do seu triste
Leito.


Tubarão .

(Este poema faz parte do livro Anarko Poemas & Outros, editado em 2010, pela Editora Multifoco).



terça-feira, 2 de agosto de 2011



Noite Densa, Dia Claro

Meu coração fede
É este amor que morreu
Meu coração fede
E ele não te pede perdão

No silêncio da morte
Vasculho lembranças
Empacotando verdades
E multiplicando distâncias

O passado já era
Antes escuro
Apaguei a luz
Do presente
Caminho melhor
No futuro.

Tubarão.


Tão Pouco As Garrafas...

Qualquer palavra
Sobre a mesa
Uma idéia
Uma cerveja
Sorriso liso
de orelha à orelha
Dinheiro sai do bolso
Alivia nossa vida
Em cada copo
Em cada gole
Idéia
Informação em movimento
Não conto as horas
Tão pouco as garrafas...

Tubarão.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Água suja

 

Contra a corrente

Porque não há tréguas
Não há regras
Não há réguas
Que mensurem a ingratidão

A covardia do cético
Tudo que é ético, belo e profundo
A verdade se encerra em nós
E não na magia do mundo

Contra a corrente

Cada vez que pulamos mais alto
A altura do salto
Se vinga da gente

Ricardo Villa Verde

segunda-feira, 27 de junho de 2011



Transfiguração

Amanhã fiz coisas
Que não lembro
Ontem era hoje
Quando acordei na rua
Não eram as horas
Que passavam pela minha cabeça
Nem mesmo os pensamentos
Que andavam lentos no relógio
Passei por um buraco de verme
Que transcendeu minha essência
Transfiguração
Depois dos cacos.

Tubarão.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Ritos

 

Mito
O que é um mito?
É tudo que acredito
Em mesas de bares?
Grito meu conflito
Repercuto
Tenho dito
Em mesas de bares

Mito
O que é um mito?
É tudo que acredito!

Em mesas de bares
Grito meu conflito

Repercuto
Tenho dito
Em mesas de bares.

Ricardo Villa Verde

segunda-feira, 23 de maio de 2011



Logo, Logo

Tem que ter cuidado com o que fala
Tem que ter cuidado com o que pensa
Ditadores da direita ou da esquerda
Logo, logo consideram como ofensa

Todo mundo logo, logo há de se doer
Pela falta de pensar
Tanta preguiça coletiva vai feder
Para o nosso azar.

Tubarão.

domingo, 15 de maio de 2011

 

Passou

 

É tanta paz que chego a sentir
O calor do paredão de pedra
Sob meus pés

Um sanhaço lindo
Passa como uma tesoura
Cortando o fundo azul

O que me resta é esperar
Pelo toque da trombeta

Que não tarda
Nesse entardecer...

Ricardo VillaVerde

quarta-feira, 11 de maio de 2011



Fruto Proibido

Por que é mais fácil viver da mentira
Do que da pura verdade?
Porque imagens seduzem tanto os olhos
Se conteúdo é felicidade?
Porque governam as nossas vidas
Quando dizem que somos livres?
Eu quero fazer certas coisas
Mas eles dizem que não é permitido
Dizem que o meu sonho
É um fruto proibido
Será que vou ser expulso do paraíso
Ou será que já estou no inferno?
A realidade às vezes é um fardo
Que pesa demais
Violência e mentiras
Estão nos privando da paz
Minha vida eu quero chamar
De liberdade
Mas me fuzilam os olhos frios
Da sociedade
Eu quero fazer certas coisas
Mas eles dizem que não é permitido
Dizem que o meu sonho
É um fruto proibido
Será que vou ser expulso do paraíso
Ou será que já estou no inferno?
Tubarão.

sábado, 7 de maio de 2011



O Político Uga-Uga

Faz uma pose
Milico extrema direita
Cabeça quadrada, mente travada
Uma anta perfeita
Quando fala
Perde a oportunidade
De ficar calado
Fala cada barbaridade
Tanto absurdo
Mas é melhor ouvir
Do que ser surdo
O que ele representa
É um atraso cultural
Que ninguém aguenta
Por ele, a História jamais
Andaria com as próprias pernas
Preconceituoso e conservador
É um legítimo homem das cavernas
Mas o que mais me assusta
É que muita gente ainda vai pagar caro
Por votar em um débil mental
Feito o Bolsonaro!

Tubarão.

terça-feira, 3 de maio de 2011

 

Mais que um trovão

 

Vivendo a vida mais que um trovão

Feito tipo, em máquina de escrever
Dando na cara do papel

Estilete sussurrando seu fel

Pisando descalço nas pedras
Para chegar aonde se quer
Dando vida a um símbolo
Pela força de uma fé

Seu seio numa canção

Vivendo a vida mais que um trovão

Passando por tudo
Como estágio probatório
Fazendo o amor ter um sentido
Quase que obrigatório

Vivendo a vida mais que um trovão

Esperando o apelo de um corpo
No fundo de um copo

Pisando no freio
Sem intenção de parar
Cortando a vida
Para se adiantar

Como flâmula
Que se carrega no peito
Mais que um trovão

 Andamos assim
Vivendo a vida mais que um TROVÃO!

Ricardo Villa Verde

domingo, 1 de maio de 2011



Preto & Branco

Hoje eu acordei
E o mundo estava em preto e branco
Tentei ajeitar a antena da televisão
Mas era o mundo que estava em preto e branco
Eu vi o céu
E o céu não era mais azul
Por outro lado,
A cor do asfalto não tinha mudado
Mas o mundo inteiro
Estava em preto e branco.
E as pessoas, cegas como sempre,
Caminhavam pelas ruas tranquilamente
Sem perceber o ocorrido.
Um cachorro em preto e branco
Latia para mim,
Era um latido em preto e branco
Que o infeliz cachorro latia.
Na lanchonete da esquina
Fui comer um hambúrguer
E era insosso o gosto
De um hambúrguer em preto e branco.
Passear pela praça
Era algo realmente sem graça,
Não havia graça nenhuma
Ver todas as árvores e brinquedos
E crianças em preto e branco
Correndo como num flashback.
Resolvi pegar o ônibus
E fui ver as belezas do Rio de Janeiro
Mas o Arpoador, Ipanema, Copacabana,
Pão de Açúcar ou Jardim Botânico
Estava tudo em preto e branco.
Até mesmo, as lindas garotas de biquíni
Estavam com as suas bundinhas em preto e branco.
Foi quando sentado, ao lado da estátua do Drummond
Que um fotógrafo de rua tirou uma foto minha...
Foi somente um clique
E a foto, para o meu derradeiro espanto,
Não estava em preto e branco.

Tubarão.

quarta-feira, 27 de abril de 2011



Pelado

Pelado
Completamente peladão
Anda tranquilamente
Em plena multidão

Pelado
Completamente peladão
É um divisor máximo
De toda opinião

Para alguns
É um horror
Para outros
É um amor

Mesmo assim,
No entanto,
Segue o pelado
Quem nunca foi santo

Pelado
É o homem que sabe bem o que vive
Não precisa de imagens ou roupas
O pelado é um homem livre!

Tubarão.

terça-feira, 26 de abril de 2011



Velho Bruxo

Velho Bruxo,
Diga-me, onde tu estás?
Em teu castelo negro
Ou diante das hordas infernais?

Velho Bruxo,
Da vida só respiro a poeira,
Foi o tempo que passou
Ou terá sido o fim da carreira?

Velho Bruxo,
Minha mente anda tão nublada,
São verdades ou delírios
De uma vida desbotada?

Velho Bruxo,
Linhagem de ancestrais druidas,
Porque será que as mulheres
Bagunçam tanto as nossas vidas?

Tubarão para Eldemar de Souza, o nosso "Velho Bruxo".

segunda-feira, 25 de abril de 2011


Ninho de cobras

Caiu bêbada como a noite
Na boca fechada da esquina
Na vida o amargo do açoite
E o ultimo suspiro à surdina

O grito legal na mente do povo
Faz-se alto no acender das janelas
 E o sangue que cobra cada centavo
Afoga as já poucas querelas

Um misto de dor e sossego
Que o inferno paga pra ver
Nas sombras do novo desterro
Onde o veneno vai nascer?

Ricardo Villa Verde & Gordack


sábado, 23 de abril de 2011

Poema encravado 

 O poema encravado
não quer dar a cara
Mal-encarado
Mal- humorado
Não diz nem um "Olá!"

O poema encravado nem sempre é travado
Está só desligado 
num canto parado
Esperando um olhar

Acaso o cravo é o fato?
Não... É o traço do ato!
Eu faço da arte o liberato
É o picadeiro da alegria

Fato é que o poema nasce travado
E, de tão inseguro, morre ao fim do dia.



Tubarão, Villa Verde, Gordack e Sara Mazuco

sexta-feira, 22 de abril de 2011



Atali

Tens o corpo do desejo encarnado
Teu olhar é envolvente atração fatal
Tanta beleza em obra perfeita
Somente poderia resultar no mal

Quantos homens se perderam
Em labirintos de beleza tão divina?
Em ti não habita a felicidade,
Somente o prazer pela ruína

Homens, deuses e demônios
Aos teus pés sempre cairão
Sedentos pelo engano de um dia ser
Os mestres do seu coração

Ninguém nunca te amou
Sem que encontrasse outro final,
Sua beleza é fria e cortante
Feito a lâmina afiada de um punhal.

Tubarão.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

 

Fumo, cachaça e peixeira


A marvada é boa demais
Lá em casa só danço baião
Menino fugiu de Alcatraz
Serra a leoa leão

Muié de Carlinhos voou
Maiara, Saíra, Jacú
Coração na tigela entornou
Lendário é o Jeca Tatu

Teu nome na boca do sapo
Tartaruga amou um jabuti
Papai tá quase planando
Nas asas de um juriti

Meu pulso cortou na marimba
Corri pra lavar minha alma
Lili se perdeu na cacimba
A vida agora é mais calma

Julin tomou leite de cabra
Nas barbas do dotô Teixeira
O cabra era macho demais
Fumo cachaça e peixeira

Ricardo Villa Verde

terça-feira, 19 de abril de 2011



Amor & Coração

Desamparada pela sorte
Amor pediu morada ao coração
E assim, aceita, trouxe alegria
Que preencheu a rubra solidão
Rapidamente, Amor se espalhou
Por todos os cantos
E sem pensar ou hesitar
Redecorou todo o Coração
Roupas novas, cores vivas
O Coração era puro Amor
Mas Amor criou autoridade
E Coração de repente
Se viu a perder sua própria identidade
Sua liberdade estava ausente
Amor abusou de tanta hospitalidade
E hoje procura outro lar
Porque não soube lidar
Com os limites do Coração.

Tubarão

segunda-feira, 18 de abril de 2011



Amigo Joey

Em seu leito Joey não tinha
Mais divertimento
Não havia Punk Rock
Apenas sofrimento
Joey fechou os olhos
Para dormir e sonhar
E sem que pudesse esperar
Foi Sid Vicius quem veio
Para lhe acompanhar
E num pub sujo
Pra lá de outros mundos
Sid e Joey tomaram cerveja juntos
E zoaram como dois vagabundos
Em puteiros de outros mundos
Na hora de partir
Joey não quis voltar
Ele sabe que um dia
Nós o encontraremos lá
Inteiro e contente
Com várias cervejas
À nossa frente!

Tubarão.

Este poema foi escrito em 2001 na ocasião da morte
de Joey Ramone, vocalista dos Ramones. Em homenagem
aos 10 anos de partida dele, publico este poema com certa cara
de cordel aqui.

quinta-feira, 14 de abril de 2011



Meus Poemas Mal Escritos

Meus poemas são mal escritos
Meus versos são garranchos em seus ouvidos
Eu atropelo sem pena todas as regras
Não me filio a nenhuma dessas merdas
Faço os meus poemas como predadores naturais
Com garra, força e sem medos banais
Eles somente matam pela fome
Meus poemas são mais machos do que muito homem!

Tubarão.


O poema que se perdeu

15:26

pensamentos correm como loucos
Procurando o poema que se perdeu

Desespero, pânico coletivo
suspeitos são presos

O poema desapareceu

Ninguém sabe
Ninguém viu

O poema desapareceu

Fotos nas ruas e nos tele-jornais
Recompensas pelo poema que se perdeu

O tempo passa,
O poema não aparece
O tempo passa
E todo mundo esquece

O poema satisfeito agora pode viver
sem medo de virar celebridade.

Tubarão.

Vestido de Seda

De mão em mão
De boca em boca
Maria Juana queimava
O seu vestido de seda.

Tubarão.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

REX MARI

Tempo faz o vento ser forte pra trazer de volta o brilho da vela
Lembro de garrafa e rolha com memórias póstumas que a muito escrevi
Sedento de marola morna o fútil marasmo insiste em me coibir
Curricando em firmamento branco busco o pingo do bico da pena
Quando o ramo verde floresce em proa
Agarro o sussurro do sótão que quebra o leme e sigo a seta
E sacio-me nas críticas finas das bordas das enseadas turbulentas
Tentando ser apenas minhas pernas.

Gordack