terça-feira, 8 de novembro de 2011


OPERÁRIO PADRÃO
Antes do sol você acorda
O dia nem começou
Pensamentos pulam para fora da cabeça
Caindo em solo estéril
No ponto de ônibus
Sempre a fila enorme
Enquanto espera, você sente inveja
De quem ainda dorme
Dentro do ônibus, o sufoco diário
De quem vai apertado
Calor humano não tem aconchego
Dentro do ônibus lotado
Já no trabalho você não espera
Milagre nenhum
Patrão mal-humorado e salário baixo
É um mal bem comum
A vida segue e você apenas
Trabalha, trabalha, trabalha
Você é a fonte de riqueza
De mais um canalha
No fim do dia, esgotado
A volta para casa é mais um desconforto
O seu corpo segue a programação
Mas você está morto
São poucas horas livres
Muito pouco tempo para descansar
Amanhã será mais um dia igual
E você só consegue pensar:
A vida segue e você apenas
Trabalha, trabalha, trabalha
Você é a fonte de riqueza
De mais um canalha.
Tubarão.



PANELA

Eu não caibo dentro
Da panela
Eu não faço parte
Da panela
Eu vivo melhor longe
Da panela
Eu faço a minha arte
Fora da panela
Panela, panelinha,
Panelão
Muitas cabeças e nenhuma
Direção
Panela, panelinha,
Panelão
Dentro de vocês não cabe
O meu coração!

Tubarão.

terça-feira, 1 de novembro de 2011


APODRECENDO

Já foi, já deu
Você não aprendeu
Que a estrada para o inferno
Está em cada um de nós?
Você nunca viu, você não ouviu
Os sussurros e os gritos
Viciosos dessa voz?

Agora se afoga
No prazer dessa droga
Morto-vivo ambulante
Assombração deselegante
Em carne seca e ossos
Passa os dias e noites
Apodrecendo sem remorsos.
Tubarão.

terça-feira, 25 de outubro de 2011


CENSURA MODERNA

Tem muita gente censurando
Sem perceber
Tem muita gente censurando
Não sabe o quê
Tem muita gente censurando
Sem ter por que
Tem muita gente censurando
Censurando você

Pessoas censurando, censurando
Nenhuma delas está pensando
Pessoas censurando, censurando
Nenhuma delas está analisando
Pessoas censurando, censurando
Deixando de lado o “X” da questão
Elas se esquecem da liberdade
De expressão

Elas alimentam a ignorância e a mágoa
Atiram a primeira pedra
Elas criam tempestade em copo d’água
Por qualquer merda
Elas estão fazendo o jogo sujo
Do pseudomoralismo
Elas estão caminhando cegas
Para dentro do abismo
Elas estão vivendo de inteligência artificial
Domesticadas pela sua existência superficial

“A censura, a censura
Única entidade que ninguém censura”
Mais!

Tubarão
(Com citação à música Censura da Plebe Rude).

terça-feira, 18 de outubro de 2011


ZÉ FUDIDO

Zé Fudido não tem amigo
Ele não tem dinheiro no bolso
Ele vive com a corda no pescoço
E com a fome na barriga
Zé Fudido não tem endereço
Ele paga o preço da vida
Zé Fudido não vota
Ele não se importa
Mentiras não salvam o mundo
Zé Fudido tem raiva no peito
E seu coração é vagabundo
Zé Fudido é sujo e agressivo
Escroto feito rato de esgoto
O desprezo é a sua religião
A sua alma se chama ódio
Fogo que ele nunca queima em vão!

Tubarão.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

 

Sete Dragões


Disfarça
Toma lenta e consciente
Teu copo de cicuta

Adormeces
Enquanto a dor não percebe

Sonha
Tua última vibração

Deixa entrar a alegria
Pela abertura de um sorriso

Entenda
São reais os disfarces
Para quem os usa

Imorais
Quando levam à cura

Ricardo Villa Verde

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

 

 A farsa de uma Maria qualquer

              
  “Atordoado eu permaneço atento
                   Na arquibancada pra a qualquer momento
     Ver emergir o monstro da lagoa”

                                                       Gilberto Gil e Chico Buarque 1973


A nova produção:
Contra-regra na  Globo
Tu vais ver o que é bom
Nós ríamos com Gil Vicente
Na praça de um novo Theatro
Acenda uma vela a  Deus
E outra a um pobre Diabo

Mais de 1000 kilowatts
Conhecemos sua língua

Achamos que um bagulho careta
                           Não merece nem ser aceso            Estribilho
Achamos que um bagulho careta
Não merece nem ser acendido

Conhecemos a língua
Coramos de vergonha
Com o seu preconceito
Ouça nossos conselhos
Mas não tem pagamento

Mais de 1000 kilowatts
Berrou num pau-de-arara

Nós ríamos com Gil Vicente
Do seu nariz de direita

Ricardo Villa Verde

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

 

Cinco segundos


O vento soprava palavras
Em minha boca vazia
Eu sentia teu sol, consumia tua fé
Hoje imagino teu céu
Contrastando
Com minha nova alegria
Que absorve energia em gotas
Ao toque da chuva na pele
Naquilo que seria um êxtase
Não fosse pelo peso dos dias
Onde tua lembrança morna
E alheia à nossa história
Martela a verdade.

Ricardo Villa Verde

segunda-feira, 19 de setembro de 2011


JARDIM DE PEDRAS
Algumas coisas não consigo
Mais lembrar
Alguns amigos do passado
Vem me visitar
Os dias passam e encurtam
A distância
Às vezes vejo o meu vulto
De infância
Correndo solto pelo
Jardim
Pedras e mais pedras
Sem fim
A noite já não é tão longa
O amanhecer não é mais tardio
Coberto de fantasmas
Às vezes sinto frio
Os dias passam e encurtam
A distância
Às vezes vejo o meu vulto
De infância
Correndo solto pelo
Jardim
Pedras e mais pedras
Sem fim...
Tubarão

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

NÃO GOSTO DO RETRATO DO MUNDO

Não gosto do retrato do mundo
Ou das mãos que desenham
Um futuro ainda mais sofrido

Já não bastam as dores de hoje
Ainda semeiam a doença futura
Que deixará o planeta mais combalido?

Todos sofrem, todos choram
Dia após dia, o sangue derramado
Ou outra atrocidade ambiental

Espalham o medo enquanto autoridades
Preservam seus corações congelados
Pelo vil metal!
Tubarão.

VÁ PARA A PUTA QUE PARIU!
Vá sozinho
Ou vá acompanhado
Vá feliz
Ou bem bolado
Vá de frente
Ou vá de ré
Vá de carro
Ou vá a pé
Vá de noite
Ou vá de dia
Vá sem a minha
Companhia
Vá com suas mentiras
Ou com suas verdades
Vá com sua alma suja
E não deixe saudades
Vá com a sua eterna
Politicagem barata
E com o fim necessário
De toda a sua mamata
Vá e não retorne
Esqueça o caminho da volta, viu?
Vá direto e sem paradas
Para a puta que pariu!
Tubarão.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

O AMOR É PUNK!

Queira ou não queira
Goste ou deteste
Alegria de uns mesmo que para outros
Não preste
É hábil na arte de armar
Uma tocaia
É mais sedutor do que um bom
Rabo de saia
Quando chega, seja de mansinho
Ou não
Te puxa o tapete, tira
O teu chão
É romântico e até mesmo
Bem cafajeste
Se entregue cego ou
Proteste
Mas saiba que quando chega
Explode teu coração
Anarquiza teus medos
E sua autogestão
É uma doce ferida
Que não há quem estanque
Para dizer a verdade,
O amor é punk!

Tubarão
BICHA VELHA


Bicha velha amarrotada
Gostava de cigarros
E músicas bregas
Muitas vezes tomou
Porrada
E no cu já não tinha
Pregas
Apenas um poço
Largo e fundo
Bicha velha desavergonhada
Já deu pra todo mundo
Patrimônio público
Bicha tombada
É assim que te classificas
Tomou a frente
De muitas namoradas
Inaugurando várias picas
Quem foi que no teu cu
Ou em tua boca ardente
Não jorrou a feroz
Porra quente?
Houve também os recatados
Que à noite, às escondidas
Contigo, muitos prazeres
Gozaram
Mas, à luz do dia, mascarados,
Ingratos, te crucificaram
Só que agora,
De nada importa
O falso e o preconceito
Bicha velha e finada
Não se vê uma única
Lágrima derramada
Na solidão
Do seu triste
Leito.


Tubarão .

(Este poema faz parte do livro Anarko Poemas & Outros, editado em 2010, pela Editora Multifoco).



terça-feira, 2 de agosto de 2011



Noite Densa, Dia Claro

Meu coração fede
É este amor que morreu
Meu coração fede
E ele não te pede perdão

No silêncio da morte
Vasculho lembranças
Empacotando verdades
E multiplicando distâncias

O passado já era
Antes escuro
Apaguei a luz
Do presente
Caminho melhor
No futuro.

Tubarão.


Tão Pouco As Garrafas...

Qualquer palavra
Sobre a mesa
Uma idéia
Uma cerveja
Sorriso liso
de orelha à orelha
Dinheiro sai do bolso
Alivia nossa vida
Em cada copo
Em cada gole
Idéia
Informação em movimento
Não conto as horas
Tão pouco as garrafas...

Tubarão.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Água suja

 

Contra a corrente

Porque não há tréguas
Não há regras
Não há réguas
Que mensurem a ingratidão

A covardia do cético
Tudo que é ético, belo e profundo
A verdade se encerra em nós
E não na magia do mundo

Contra a corrente

Cada vez que pulamos mais alto
A altura do salto
Se vinga da gente

Ricardo Villa Verde