domingo, 1 de maio de 2011



Preto & Branco

Hoje eu acordei
E o mundo estava em preto e branco
Tentei ajeitar a antena da televisão
Mas era o mundo que estava em preto e branco
Eu vi o céu
E o céu não era mais azul
Por outro lado,
A cor do asfalto não tinha mudado
Mas o mundo inteiro
Estava em preto e branco.
E as pessoas, cegas como sempre,
Caminhavam pelas ruas tranquilamente
Sem perceber o ocorrido.
Um cachorro em preto e branco
Latia para mim,
Era um latido em preto e branco
Que o infeliz cachorro latia.
Na lanchonete da esquina
Fui comer um hambúrguer
E era insosso o gosto
De um hambúrguer em preto e branco.
Passear pela praça
Era algo realmente sem graça,
Não havia graça nenhuma
Ver todas as árvores e brinquedos
E crianças em preto e branco
Correndo como num flashback.
Resolvi pegar o ônibus
E fui ver as belezas do Rio de Janeiro
Mas o Arpoador, Ipanema, Copacabana,
Pão de Açúcar ou Jardim Botânico
Estava tudo em preto e branco.
Até mesmo, as lindas garotas de biquíni
Estavam com as suas bundinhas em preto e branco.
Foi quando sentado, ao lado da estátua do Drummond
Que um fotógrafo de rua tirou uma foto minha...
Foi somente um clique
E a foto, para o meu derradeiro espanto,
Não estava em preto e branco.

Tubarão.

quarta-feira, 27 de abril de 2011



Pelado

Pelado
Completamente peladão
Anda tranquilamente
Em plena multidão

Pelado
Completamente peladão
É um divisor máximo
De toda opinião

Para alguns
É um horror
Para outros
É um amor

Mesmo assim,
No entanto,
Segue o pelado
Quem nunca foi santo

Pelado
É o homem que sabe bem o que vive
Não precisa de imagens ou roupas
O pelado é um homem livre!

Tubarão.

terça-feira, 26 de abril de 2011



Velho Bruxo

Velho Bruxo,
Diga-me, onde tu estás?
Em teu castelo negro
Ou diante das hordas infernais?

Velho Bruxo,
Da vida só respiro a poeira,
Foi o tempo que passou
Ou terá sido o fim da carreira?

Velho Bruxo,
Minha mente anda tão nublada,
São verdades ou delírios
De uma vida desbotada?

Velho Bruxo,
Linhagem de ancestrais druidas,
Porque será que as mulheres
Bagunçam tanto as nossas vidas?

Tubarão para Eldemar de Souza, o nosso "Velho Bruxo".

segunda-feira, 25 de abril de 2011


Ninho de cobras

Caiu bêbada como a noite
Na boca fechada da esquina
Na vida o amargo do açoite
E o ultimo suspiro à surdina

O grito legal na mente do povo
Faz-se alto no acender das janelas
 E o sangue que cobra cada centavo
Afoga as já poucas querelas

Um misto de dor e sossego
Que o inferno paga pra ver
Nas sombras do novo desterro
Onde o veneno vai nascer?

Ricardo Villa Verde & Gordack


sábado, 23 de abril de 2011

Poema encravado 

 O poema encravado
não quer dar a cara
Mal-encarado
Mal- humorado
Não diz nem um "Olá!"

O poema encravado nem sempre é travado
Está só desligado 
num canto parado
Esperando um olhar

Acaso o cravo é o fato?
Não... É o traço do ato!
Eu faço da arte o liberato
É o picadeiro da alegria

Fato é que o poema nasce travado
E, de tão inseguro, morre ao fim do dia.



Tubarão, Villa Verde, Gordack e Sara Mazuco

sexta-feira, 22 de abril de 2011



Atali

Tens o corpo do desejo encarnado
Teu olhar é envolvente atração fatal
Tanta beleza em obra perfeita
Somente poderia resultar no mal

Quantos homens se perderam
Em labirintos de beleza tão divina?
Em ti não habita a felicidade,
Somente o prazer pela ruína

Homens, deuses e demônios
Aos teus pés sempre cairão
Sedentos pelo engano de um dia ser
Os mestres do seu coração

Ninguém nunca te amou
Sem que encontrasse outro final,
Sua beleza é fria e cortante
Feito a lâmina afiada de um punhal.

Tubarão.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

 

Fumo, cachaça e peixeira


A marvada é boa demais
Lá em casa só danço baião
Menino fugiu de Alcatraz
Serra a leoa leão

Muié de Carlinhos voou
Maiara, Saíra, Jacú
Coração na tigela entornou
Lendário é o Jeca Tatu

Teu nome na boca do sapo
Tartaruga amou um jabuti
Papai tá quase planando
Nas asas de um juriti

Meu pulso cortou na marimba
Corri pra lavar minha alma
Lili se perdeu na cacimba
A vida agora é mais calma

Julin tomou leite de cabra
Nas barbas do dotô Teixeira
O cabra era macho demais
Fumo cachaça e peixeira

Ricardo Villa Verde

terça-feira, 19 de abril de 2011



Amor & Coração

Desamparada pela sorte
Amor pediu morada ao coração
E assim, aceita, trouxe alegria
Que preencheu a rubra solidão
Rapidamente, Amor se espalhou
Por todos os cantos
E sem pensar ou hesitar
Redecorou todo o Coração
Roupas novas, cores vivas
O Coração era puro Amor
Mas Amor criou autoridade
E Coração de repente
Se viu a perder sua própria identidade
Sua liberdade estava ausente
Amor abusou de tanta hospitalidade
E hoje procura outro lar
Porque não soube lidar
Com os limites do Coração.

Tubarão

segunda-feira, 18 de abril de 2011



Amigo Joey

Em seu leito Joey não tinha
Mais divertimento
Não havia Punk Rock
Apenas sofrimento
Joey fechou os olhos
Para dormir e sonhar
E sem que pudesse esperar
Foi Sid Vicius quem veio
Para lhe acompanhar
E num pub sujo
Pra lá de outros mundos
Sid e Joey tomaram cerveja juntos
E zoaram como dois vagabundos
Em puteiros de outros mundos
Na hora de partir
Joey não quis voltar
Ele sabe que um dia
Nós o encontraremos lá
Inteiro e contente
Com várias cervejas
À nossa frente!

Tubarão.

Este poema foi escrito em 2001 na ocasião da morte
de Joey Ramone, vocalista dos Ramones. Em homenagem
aos 10 anos de partida dele, publico este poema com certa cara
de cordel aqui.

quinta-feira, 14 de abril de 2011



Meus Poemas Mal Escritos

Meus poemas são mal escritos
Meus versos são garranchos em seus ouvidos
Eu atropelo sem pena todas as regras
Não me filio a nenhuma dessas merdas
Faço os meus poemas como predadores naturais
Com garra, força e sem medos banais
Eles somente matam pela fome
Meus poemas são mais machos do que muito homem!

Tubarão.


O poema que se perdeu

15:26

pensamentos correm como loucos
Procurando o poema que se perdeu

Desespero, pânico coletivo
suspeitos são presos

O poema desapareceu

Ninguém sabe
Ninguém viu

O poema desapareceu

Fotos nas ruas e nos tele-jornais
Recompensas pelo poema que se perdeu

O tempo passa,
O poema não aparece
O tempo passa
E todo mundo esquece

O poema satisfeito agora pode viver
sem medo de virar celebridade.

Tubarão.

Vestido de Seda

De mão em mão
De boca em boca
Maria Juana queimava
O seu vestido de seda.

Tubarão.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

REX MARI

Tempo faz o vento ser forte pra trazer de volta o brilho da vela
Lembro de garrafa e rolha com memórias póstumas que a muito escrevi
Sedento de marola morna o fútil marasmo insiste em me coibir
Curricando em firmamento branco busco o pingo do bico da pena
Quando o ramo verde floresce em proa
Agarro o sussurro do sótão que quebra o leme e sigo a seta
E sacio-me nas críticas finas das bordas das enseadas turbulentas
Tentando ser apenas minhas pernas.

Gordack 

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

 

Espécie em discussão


Não me prendo a nada
Nenhum compromisso
Com aquilo ou com isso
Não gosto da letra copiada
Todas as pedras que piso
Na minha estrada
Formam um chão liso
Colocadas uma a uma
Pelo meu descompromisso
Sigo aquilo que melhor me serve
E o que me serve melhor
É tudo o que invento
Com retalhos remendo
A cruz que aguento
Sentimentos são como árvores
E seus galhos
Sempre acima do meu nariz
Onde eu
O macaco
Busco atalhos
Para mais rápido
Ser feliz.


Ricardo Villa Verde

domingo, 19 de dezembro de 2010

GOTA DE ORVALHO


Manhã se fez brotar preguiçosa na capela do quarto
Entre os tênues vãos da trama do bambu que prolongavam a noite
O beijo quente despertou a claridade
Ainda contava os pedaços oníricos para organizar as pétalas
Quando me sorriu o perfume do desjejum
Visitantes logo chegaram
Gulosos sorveram-se quase completamente
Em troca levaram meus poemas alando-os aos comuns
Foi assim durante toda a eternidade daquele dia
No crepúsculo me desprendo e plaino dando voltas e cambalhotas mirabolantes
Sou agora com a ajuda do vento sepultado longe da minha mãe
Para fazer brotar meus filhos




Gordack 

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010




INEVITÁVEL

É não tem mais jeito, vou me mudar,
Inevitavelmente em outro lugar agora vou aportar.
Saudades levarei em malas cerebrais,
O gosto das bocas eternizadas nas percepções,
Lembrar das risadas e tudo o mais.
E já que só me restam apenas alguns dias,
Vou ratificar a festa final.
Aguardo com um misto de angustia e ansiedade,
O que marcará minha despedida.
Espero que a incentivadora dos amantes
Não desaponte e apareça vestida de prata.
E que ninguém falte e que ninguém vá embora nunca.
E que a fogueira radie alegria e que o som de Netuno em dueto
Com as cordas do braço rijo faça o alvorecer ficar mais longe.
E que todos gritem e saúdam com um belo alvoroço
O momento em que alguém inesperado chegar.
E que as satisfações plenas eternizem-se nas
Memórias das areias onde junto com as cascas
Das conchas jazem corpos deleitados.
E que as loucuras dos Malucos fartos de doideiras
Pronunciem: há! "Não obrigado já perdi a estribeira."
As danças e as comunhões, as irmandades e as emoções
Serão meus prediletos presenteio.
Porém ciente estarei, que a reluzente estrela-mor anunciará
Que a farra aquela altura já está por acabar.
Enfurecidamente ao exílio deste paraíso rumar-irei.
Torpe e senil das maravilhas que deixo aqui.

Gordack