sábado, 23 de abril de 2011

Poema encravado 

 O poema encravado
não quer dar a cara
Mal-encarado
Mal- humorado
Não diz nem um "Olá!"

O poema encravado nem sempre é travado
Está só desligado 
num canto parado
Esperando um olhar

Acaso o cravo é o fato?
Não... É o traço do ato!
Eu faço da arte o liberato
É o picadeiro da alegria

Fato é que o poema nasce travado
E, de tão inseguro, morre ao fim do dia.



Tubarão, Villa Verde, Gordack e Sara Mazuco

sexta-feira, 22 de abril de 2011



Atali

Tens o corpo do desejo encarnado
Teu olhar é envolvente atração fatal
Tanta beleza em obra perfeita
Somente poderia resultar no mal

Quantos homens se perderam
Em labirintos de beleza tão divina?
Em ti não habita a felicidade,
Somente o prazer pela ruína

Homens, deuses e demônios
Aos teus pés sempre cairão
Sedentos pelo engano de um dia ser
Os mestres do seu coração

Ninguém nunca te amou
Sem que encontrasse outro final,
Sua beleza é fria e cortante
Feito a lâmina afiada de um punhal.

Tubarão.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

 

Fumo, cachaça e peixeira


A marvada é boa demais
Lá em casa só danço baião
Menino fugiu de Alcatraz
Serra a leoa leão

Muié de Carlinhos voou
Maiara, Saíra, Jacú
Coração na tigela entornou
Lendário é o Jeca Tatu

Teu nome na boca do sapo
Tartaruga amou um jabuti
Papai tá quase planando
Nas asas de um juriti

Meu pulso cortou na marimba
Corri pra lavar minha alma
Lili se perdeu na cacimba
A vida agora é mais calma

Julin tomou leite de cabra
Nas barbas do dotô Teixeira
O cabra era macho demais
Fumo cachaça e peixeira

Ricardo Villa Verde

terça-feira, 19 de abril de 2011



Amor & Coração

Desamparada pela sorte
Amor pediu morada ao coração
E assim, aceita, trouxe alegria
Que preencheu a rubra solidão
Rapidamente, Amor se espalhou
Por todos os cantos
E sem pensar ou hesitar
Redecorou todo o Coração
Roupas novas, cores vivas
O Coração era puro Amor
Mas Amor criou autoridade
E Coração de repente
Se viu a perder sua própria identidade
Sua liberdade estava ausente
Amor abusou de tanta hospitalidade
E hoje procura outro lar
Porque não soube lidar
Com os limites do Coração.

Tubarão

segunda-feira, 18 de abril de 2011



Amigo Joey

Em seu leito Joey não tinha
Mais divertimento
Não havia Punk Rock
Apenas sofrimento
Joey fechou os olhos
Para dormir e sonhar
E sem que pudesse esperar
Foi Sid Vicius quem veio
Para lhe acompanhar
E num pub sujo
Pra lá de outros mundos
Sid e Joey tomaram cerveja juntos
E zoaram como dois vagabundos
Em puteiros de outros mundos
Na hora de partir
Joey não quis voltar
Ele sabe que um dia
Nós o encontraremos lá
Inteiro e contente
Com várias cervejas
À nossa frente!

Tubarão.

Este poema foi escrito em 2001 na ocasião da morte
de Joey Ramone, vocalista dos Ramones. Em homenagem
aos 10 anos de partida dele, publico este poema com certa cara
de cordel aqui.

quinta-feira, 14 de abril de 2011



Meus Poemas Mal Escritos

Meus poemas são mal escritos
Meus versos são garranchos em seus ouvidos
Eu atropelo sem pena todas as regras
Não me filio a nenhuma dessas merdas
Faço os meus poemas como predadores naturais
Com garra, força e sem medos banais
Eles somente matam pela fome
Meus poemas são mais machos do que muito homem!

Tubarão.


O poema que se perdeu

15:26

pensamentos correm como loucos
Procurando o poema que se perdeu

Desespero, pânico coletivo
suspeitos são presos

O poema desapareceu

Ninguém sabe
Ninguém viu

O poema desapareceu

Fotos nas ruas e nos tele-jornais
Recompensas pelo poema que se perdeu

O tempo passa,
O poema não aparece
O tempo passa
E todo mundo esquece

O poema satisfeito agora pode viver
sem medo de virar celebridade.

Tubarão.

Vestido de Seda

De mão em mão
De boca em boca
Maria Juana queimava
O seu vestido de seda.

Tubarão.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

REX MARI

Tempo faz o vento ser forte pra trazer de volta o brilho da vela
Lembro de garrafa e rolha com memórias póstumas que a muito escrevi
Sedento de marola morna o fútil marasmo insiste em me coibir
Curricando em firmamento branco busco o pingo do bico da pena
Quando o ramo verde floresce em proa
Agarro o sussurro do sótão que quebra o leme e sigo a seta
E sacio-me nas críticas finas das bordas das enseadas turbulentas
Tentando ser apenas minhas pernas.

Gordack 

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

 

Espécie em discussão


Não me prendo a nada
Nenhum compromisso
Com aquilo ou com isso
Não gosto da letra copiada
Todas as pedras que piso
Na minha estrada
Formam um chão liso
Colocadas uma a uma
Pelo meu descompromisso
Sigo aquilo que melhor me serve
E o que me serve melhor
É tudo o que invento
Com retalhos remendo
A cruz que aguento
Sentimentos são como árvores
E seus galhos
Sempre acima do meu nariz
Onde eu
O macaco
Busco atalhos
Para mais rápido
Ser feliz.


Ricardo Villa Verde

domingo, 19 de dezembro de 2010

GOTA DE ORVALHO


Manhã se fez brotar preguiçosa na capela do quarto
Entre os tênues vãos da trama do bambu que prolongavam a noite
O beijo quente despertou a claridade
Ainda contava os pedaços oníricos para organizar as pétalas
Quando me sorriu o perfume do desjejum
Visitantes logo chegaram
Gulosos sorveram-se quase completamente
Em troca levaram meus poemas alando-os aos comuns
Foi assim durante toda a eternidade daquele dia
No crepúsculo me desprendo e plaino dando voltas e cambalhotas mirabolantes
Sou agora com a ajuda do vento sepultado longe da minha mãe
Para fazer brotar meus filhos




Gordack 

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010




INEVITÁVEL

É não tem mais jeito, vou me mudar,
Inevitavelmente em outro lugar agora vou aportar.
Saudades levarei em malas cerebrais,
O gosto das bocas eternizadas nas percepções,
Lembrar das risadas e tudo o mais.
E já que só me restam apenas alguns dias,
Vou ratificar a festa final.
Aguardo com um misto de angustia e ansiedade,
O que marcará minha despedida.
Espero que a incentivadora dos amantes
Não desaponte e apareça vestida de prata.
E que ninguém falte e que ninguém vá embora nunca.
E que a fogueira radie alegria e que o som de Netuno em dueto
Com as cordas do braço rijo faça o alvorecer ficar mais longe.
E que todos gritem e saúdam com um belo alvoroço
O momento em que alguém inesperado chegar.
E que as satisfações plenas eternizem-se nas
Memórias das areias onde junto com as cascas
Das conchas jazem corpos deleitados.
E que as loucuras dos Malucos fartos de doideiras
Pronunciem: há! "Não obrigado já perdi a estribeira."
As danças e as comunhões, as irmandades e as emoções
Serão meus prediletos presenteio.
Porém ciente estarei, que a reluzente estrela-mor anunciará
Que a farra aquela altura já está por acabar.
Enfurecidamente ao exílio deste paraíso rumar-irei.
Torpe e senil das maravilhas que deixo aqui.

Gordack

segunda-feira, 15 de novembro de 2010



A galope ligeiro

A novidade golpeou-me como um chicote em lombo cândido.
Mataram um boi na fazenda do Sinhô Dotô Capanema.
Corri a cidade inteira por notícia fresca, ninguém me falou do dito.
Até que em dorso de burro veloz a boa nova se fez.
Trajado de gibão de sol e elegante postura
 Tuninho Banzé em conversa de pé de ouvido martelou a derradeira:
- hoje tem churrasco na casa de Dotô.
De pronto perguntei: É pra comemorá?
E ele: Pois é, mataram Carlinhos.

Gordack e Ricardo Villa Verde

terça-feira, 26 de outubro de 2010

 

Eterno Presente

 

   Preâmbulo: fragmentos de um manifesto qualquer , pensamentos em estampas, que tem como título : Eterno Presente, que também é o nome de uma teoria que acredita que tudo que existe, inclusive o próprio mundo, é um evento que já aconteceu, logo, vivemos baseados na nossa medida de tempo em relação a isso: daí o dom da precognição, que existe em alguns seres, explica por que os mesmos têm a capacidade de ver o que ainda vai acontecer.

   Não há perspectivas de uma revolução futura. Nas fábricas, além do pensamento encarcerado, apenas o apertar de parafusos e ajustes de peças, que não se encaixam na proposta de salvação – do  homem pelo homem.

   A cada dia que passa os ratos ficam mais ensaboados às ratoeiras!

   A liberdade tem seu valor maior estipulado pelo uso que fazemos dela, então, não somos livres. Escrevo isso sentado em uma cadeira que é o último lugar que eu gostaria de ocupar agora.

   Precisamos buscar a unificação longe do que é determinado e apertar o gatilho com carinho e cuidado, para conseguir desalienar o homem máquina.

   Nossos atos mêcanicos precisam passar para o nível de ações ideológicas. Até um aperto de mão precisa ser redefinido para que saibamos como originou-se e a simbologia que carrega hoje.

   Baseado no passado projeto meu futuro.  Tocamos o mundo apenas de maneira parcial, então me protejo, descubro que sou o projeto e novamente me projeto na conquista do maior presente: o agora

   Nunca mais me fracionei e isso fez a loucura transparecer aos olhos dos loucos que me cercam. Os brados da massa é só um foco concreto de reflexos condicionados, até o grito de gol é mecânico, previsível e com duração estipulada, eles se julgam normais.

   O jogo foi limitado, a festa foi limitada, limitaram sorrisos. Pai e Mãe, amigos, amantes, irmãos... Continuamos sozinhos.

   Acreditar na salvação do homem pelas máquinas fez anjos chorarem,com ou sem caos, estaremos lutando em todo lugar.

Ricardo Villa Verde

terça-feira, 12 de outubro de 2010




ORDENHA PRÓPRIA

O oloroso sebo que amenizava a distância entre o vento e tuas madeixas
Revelou-se num breve bingo
Contrastando-se com o brilho carnudo do batom
Em filas que agora percebo desordenadas saúdam-me os marfins
Em colo farto, tendências distintas inspiram ancas detentoras de doces convites
Oníricos onde se imagina ter ou não ter nos dentes o fio púbico
E a incredulidade do seu olhar abriu lacuna
E já não sinto as agulhas do seu salto costurar o meu concordo
Não atravesso mais a rua, o assobio não é mais o meu
Com graça em canto de boca, aceito o seu passaporte de látex
Furo o iole e volto ao cais com braçadas calmas
Quando se afoga o motor todas as popas são iguais.

Gordack

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

 

Até abrir caminho pro paraíso

Às vezes sou eu lírico
Às vezes sou eu mesmo
Algumas etílico
Noutras tiro a esmo
Sou um louco preso ao jogo
De ter nascido nessa era
O fogo que me consome
É o de minha quimera
Sinto-me seta
Na imensidão azul
De norte a sul
Apontando pra outro planeta
Quando deito no teu peito plural
Eu sou o cometa
E sinto a singularidade
Que só sente quem ama
Meu grito vogal
Já não mente
Não é dor, nem chama
Quem se habilita
A ser amabilissíma?

Ricardo Villa Verde