quinta-feira, 14 de abril de 2011


Vestido de Seda

De mão em mão
De boca em boca
Maria Juana queimava
O seu vestido de seda.

Tubarão.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

REX MARI

Tempo faz o vento ser forte pra trazer de volta o brilho da vela
Lembro de garrafa e rolha com memórias póstumas que a muito escrevi
Sedento de marola morna o fútil marasmo insiste em me coibir
Curricando em firmamento branco busco o pingo do bico da pena
Quando o ramo verde floresce em proa
Agarro o sussurro do sótão que quebra o leme e sigo a seta
E sacio-me nas críticas finas das bordas das enseadas turbulentas
Tentando ser apenas minhas pernas.

Gordack 

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

 

Espécie em discussão


Não me prendo a nada
Nenhum compromisso
Com aquilo ou com isso
Não gosto da letra copiada
Todas as pedras que piso
Na minha estrada
Formam um chão liso
Colocadas uma a uma
Pelo meu descompromisso
Sigo aquilo que melhor me serve
E o que me serve melhor
É tudo o que invento
Com retalhos remendo
A cruz que aguento
Sentimentos são como árvores
E seus galhos
Sempre acima do meu nariz
Onde eu
O macaco
Busco atalhos
Para mais rápido
Ser feliz.


Ricardo Villa Verde

domingo, 19 de dezembro de 2010

GOTA DE ORVALHO


Manhã se fez brotar preguiçosa na capela do quarto
Entre os tênues vãos da trama do bambu que prolongavam a noite
O beijo quente despertou a claridade
Ainda contava os pedaços oníricos para organizar as pétalas
Quando me sorriu o perfume do desjejum
Visitantes logo chegaram
Gulosos sorveram-se quase completamente
Em troca levaram meus poemas alando-os aos comuns
Foi assim durante toda a eternidade daquele dia
No crepúsculo me desprendo e plaino dando voltas e cambalhotas mirabolantes
Sou agora com a ajuda do vento sepultado longe da minha mãe
Para fazer brotar meus filhos




Gordack 

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010




INEVITÁVEL

É não tem mais jeito, vou me mudar,
Inevitavelmente em outro lugar agora vou aportar.
Saudades levarei em malas cerebrais,
O gosto das bocas eternizadas nas percepções,
Lembrar das risadas e tudo o mais.
E já que só me restam apenas alguns dias,
Vou ratificar a festa final.
Aguardo com um misto de angustia e ansiedade,
O que marcará minha despedida.
Espero que a incentivadora dos amantes
Não desaponte e apareça vestida de prata.
E que ninguém falte e que ninguém vá embora nunca.
E que a fogueira radie alegria e que o som de Netuno em dueto
Com as cordas do braço rijo faça o alvorecer ficar mais longe.
E que todos gritem e saúdam com um belo alvoroço
O momento em que alguém inesperado chegar.
E que as satisfações plenas eternizem-se nas
Memórias das areias onde junto com as cascas
Das conchas jazem corpos deleitados.
E que as loucuras dos Malucos fartos de doideiras
Pronunciem: há! "Não obrigado já perdi a estribeira."
As danças e as comunhões, as irmandades e as emoções
Serão meus prediletos presenteio.
Porém ciente estarei, que a reluzente estrela-mor anunciará
Que a farra aquela altura já está por acabar.
Enfurecidamente ao exílio deste paraíso rumar-irei.
Torpe e senil das maravilhas que deixo aqui.

Gordack

segunda-feira, 15 de novembro de 2010



A galope ligeiro

A novidade golpeou-me como um chicote em lombo cândido.
Mataram um boi na fazenda do Sinhô Dotô Capanema.
Corri a cidade inteira por notícia fresca, ninguém me falou do dito.
Até que em dorso de burro veloz a boa nova se fez.
Trajado de gibão de sol e elegante postura
 Tuninho Banzé em conversa de pé de ouvido martelou a derradeira:
- hoje tem churrasco na casa de Dotô.
De pronto perguntei: É pra comemorá?
E ele: Pois é, mataram Carlinhos.

Gordack e Ricardo Villa Verde

terça-feira, 26 de outubro de 2010

 

Eterno Presente

 

   Preâmbulo: fragmentos de um manifesto qualquer , pensamentos em estampas, que tem como título : Eterno Presente, que também é o nome de uma teoria que acredita que tudo que existe, inclusive o próprio mundo, é um evento que já aconteceu, logo, vivemos baseados na nossa medida de tempo em relação a isso: daí o dom da precognição, que existe em alguns seres, explica por que os mesmos têm a capacidade de ver o que ainda vai acontecer.

   Não há perspectivas de uma revolução futura. Nas fábricas, além do pensamento encarcerado, apenas o apertar de parafusos e ajustes de peças, que não se encaixam na proposta de salvação – do  homem pelo homem.

   A cada dia que passa os ratos ficam mais ensaboados às ratoeiras!

   A liberdade tem seu valor maior estipulado pelo uso que fazemos dela, então, não somos livres. Escrevo isso sentado em uma cadeira que é o último lugar que eu gostaria de ocupar agora.

   Precisamos buscar a unificação longe do que é determinado e apertar o gatilho com carinho e cuidado, para conseguir desalienar o homem máquina.

   Nossos atos mêcanicos precisam passar para o nível de ações ideológicas. Até um aperto de mão precisa ser redefinido para que saibamos como originou-se e a simbologia que carrega hoje.

   Baseado no passado projeto meu futuro.  Tocamos o mundo apenas de maneira parcial, então me protejo, descubro que sou o projeto e novamente me projeto na conquista do maior presente: o agora

   Nunca mais me fracionei e isso fez a loucura transparecer aos olhos dos loucos que me cercam. Os brados da massa é só um foco concreto de reflexos condicionados, até o grito de gol é mecânico, previsível e com duração estipulada, eles se julgam normais.

   O jogo foi limitado, a festa foi limitada, limitaram sorrisos. Pai e Mãe, amigos, amantes, irmãos... Continuamos sozinhos.

   Acreditar na salvação do homem pelas máquinas fez anjos chorarem,com ou sem caos, estaremos lutando em todo lugar.

Ricardo Villa Verde

terça-feira, 12 de outubro de 2010




ORDENHA PRÓPRIA

O oloroso sebo que amenizava a distância entre o vento e tuas madeixas
Revelou-se num breve bingo
Contrastando-se com o brilho carnudo do batom
Em filas que agora percebo desordenadas saúdam-me os marfins
Em colo farto, tendências distintas inspiram ancas detentoras de doces convites
Oníricos onde se imagina ter ou não ter nos dentes o fio púbico
E a incredulidade do seu olhar abriu lacuna
E já não sinto as agulhas do seu salto costurar o meu concordo
Não atravesso mais a rua, o assobio não é mais o meu
Com graça em canto de boca, aceito o seu passaporte de látex
Furo o iole e volto ao cais com braçadas calmas
Quando se afoga o motor todas as popas são iguais.

Gordack

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

 

Até abrir caminho pro paraíso

Às vezes sou eu lírico
Às vezes sou eu mesmo
Algumas etílico
Noutras tiro a esmo
Sou um louco preso ao jogo
De ter nascido nessa era
O fogo que me consome
É o de minha quimera
Sinto-me seta
Na imensidão azul
De norte a sul
Apontando pra outro planeta
Quando deito no teu peito plural
Eu sou o cometa
E sinto a singularidade
Que só sente quem ama
Meu grito vogal
Já não mente
Não é dor, nem chama
Quem se habilita
A ser amabilissíma?

Ricardo Villa Verde

quarta-feira, 21 de julho de 2010


Vendaval

Voo solo, de cara no chão.
Irremediável, solitude,
Sem atitude,
Afastando qualquer razão

Ao solo, os dois pés no chão
Visão de incrível plenitude
Na ladeira da Saúde
O samba afasta a solidão

Na infinitude da essência,
Adormece a imensidão!

...Tudo se foi
palavras, sonhos
O amor que tenho 
é um caminho que não volta mais

Quem dera tudo ter sido diferente
do que hoje brilho sem luz.

Luciano S., Ricardo Villa Verde, Sara Mazuco e Tubarão.


sexta-feira, 25 de junho de 2010

http://www.youtube.com/watch?v=k3B08CeXwQ8&feature=related

Soda

Nas horas sem cinzas
Em lábios sem cor
Viagem ao centro do eu infinito
A espera de um pranto sem dor
No olho a dureza fiel do granito 
E uma espécie de gota de um orvalho louco

Ricardo Villa Verde, Sara Mazuco, Tubarão, André Oliveira, Vicente Portela e Heraldo HB

terça-feira, 25 de maio de 2010



 

Mimetismo

Tiro  mangas da manga
Miragens daquilo que pulsa
Da mesa empoeirada, o pó
Uma mão na roda
E a cabeça  roda
Pó, pó
Manga, manga
Roda, roda
Eu, Você
Tudo  consumindo-se
E a palavra nós, sumindo
Acho  que jamais entenderias
Quem eu não tive forças para ser
Amor e psiquê
É  perfume barato...

Ricardo Villa Verde

quarta-feira, 12 de maio de 2010


De ápices e Vertices

O auge
Que bom quando ele surge
Mas quando saber se é mesmo o auge?
E se depois dele vir outro ápice?
E se alguém aproximar-se
Dizendo: “Voce é minha vértice!”?
Será que essa pessoa profere falácias?
Ou procura o auge na essência de remédios
Que não vendem em farmácias?
Auge após auge
Acabamos por perder o lance mágico
E o ponto culminante as vezes é trágico
Entretanto, o verdadeiro auge
É sereno, mas ruge
Como um leão sem centelha
Em contramão na linha vermelha
Num dia vermelho
Onde o amanhã será um espelho
Refletindo a alegria
De ter o auge todo dia.

Ricardo Villa Verde

MARGINAIS & MALDITOS

Poetas são marginais dentro da arte
incendeiam palavras e bocas
 todos os sentidos consumidos
pelos desejos dos seus versos.
Poetas são anjos malditos
que sangram as verdades pálidas
 aquelas expostas nas vitrines
do dia a dia sem vida.
Poetas não pensam no paraíso
 preferem as flores do mal
poetas molham as suas palavras
no vinho e na orgia do viver.
Poetas são marginais
poetas são anjos malditos
são vagabundos iluminados
pela conta-mão da humanidade!
 
Tubarão 

quarta-feira, 5 de maio de 2010


Entrega

Sai da frente
Não me compromete
Não me afronte
Que hoje eu tô a frete

Ricardo Villa Verde e Sara Mazuco